sábado, 18 de junho de 2011

Pintura harmônica maior


No período do alto renascimento,  observei um pintor de rua, sob a sombra, num canto de uma praça qualquer. Poeta, músico, escultor, arquétipo renascentista, religiosamente aberto ao que o coração lhe falava, centrado fitando, somente riscava.
Na viagem do novo pro velho mundo pus-me a acompanhar sua pintura, pintava uma menina, talvez mulher, e nos ingredientes de sua imaginação traçava os cachos de um cabelo negro...
Resolvi observar até o fim, afinal, com a arte certamente o tempo não é perdido, apreciei os olhos expressivos e a pele clara quase rosa daquela pintura. Seguiam os riscos e se desenhava a perfeição. No seu momento de pausa, perguntei-lhe se era sua esposa, e ele disse que nunca seria, mas não negou sua existência. Seu comportamento me confirmava que aquela expressão dos olhos pintados muitas vezes lhe foi direcionada.
Após cinco longas horas, como cinco letras de um nome ou sete cores do arco-íris, tais como sete notas musicais, nítidas, bem soadas e sem dissonância, no seu canto, ao lado do de um banco, dava as últimas pinceladas ao som do seu próprio cantar. Era um homem que já não duvidava da possível exceção aplicada  para o ditado de que "ninguém é perfeito". Ali mostrava ter um novo credo, pois expressar nada mais é do que externar a sensação de um sentimento vivido, porém o artista nunca poderia certificar-se da veracidade de tamanha perfeição, a ele era inalcançável, estava somente ao alcance de outras mãos...

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